Ameaça de massacre em Colégio mobiliza população e autoridades em Alto Paraíso de Goiás
Perfis criados em redes sociais ameaçam com atentados no CEPI Moisés Nunes Bandeira e na Escola Estadual Doutor Gerson de Farias.
Perfis criados em redes sociais ameaçam com atentados no CEPI Moisés Nunes Bandeira e na Escola Estadual Doutor Gerson de Farias. Policias Militar e Civil foram alertadas e já estão investigando as ameaças. Reunião com o Conselho de educação definiu realização de audiência pública para trazer os pais, responsáveis, autoridades do município e todos os agentes públicos e privados para discussão do tema.
O que parecia ser coisa de “cidade grande”, que só aconteciam nos Estados Unidos ou na Europa, tem, infelizmente, chegado com força assustadoras também nos pequenos municípios brasileiros, a violência no ambiente escolar.
Na semana em que o Brasil se comoveu com o caso do estudante de 13 anos que invadiu a Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, e matou a professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, e feriu outras quatro pessoas – três professores e um aluno, (Ele planejava o ataque há cerca de dois anos e tentou até comprar uma arma de fogo.) o medo de uma tragédia parecida tomou conta dos moradores de Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, região nordeste do estado.
Há dias circula no município que alunos do Centro de Ensino Em Período Integral Polivalente (CEPI) Moisés Nunes Bandeira estariam marcando brigas, com ameaças de morte, que aconteceriam nos horários de entradas e saídas do Colégio, através de aplicativos como o WhatsApp e o Instagram.
Perfil criado em rede social propaga massacre no CEPI Moises Nunes Bandeira, em Alto Paraíso de Goiás.
Isso também estaria acontecendo, segundo informações obtidas pelo Jornal O VETOR, na Escola Estadual Doutor Gerson de Faria Pereira.
Confirmando o que parecia ser apenas boatos, um dos delinquentes abriu um perfil na rede social Instagram com o nome de massacre_ no _moisesnunes, enquanto era propagado entre os próprios alunos, em perfis anônimos, que nesta quarta-feira, 29, haveria um massacre no Colégio.
Além de notificar as Polícias Civil e Militar, a direção da instituição enviou ofício ao Comandante da 14ª CIPM, Capitão Alexsander Jorge Júnior, solicitando reforço no policiamento nas imediações do Colégio. Leia a íntegra abaixo.
Direção da escola alertou pais e responsaveis, e pediu reforço na segurança pela Polícia Militar.
O grupo gestor da instituição enviou alerta também para os pais e responsáveis dos alunos, solicitando que reforcem o pedido de ajuda junto as forças de segurança do município.
“Boa noite senhores Pais e Responsáveis!
Venho por meio deste comunicado informar que, a par das “conversas” entre os estudantes de que haveria um “massacre” na escola no dia 29/3, esta Unidade Escolar já buscou o apoio da Polícia Militar para que esteja presente na escola afim de evitar quaisquer atos de violência.
Informo ainda que esta conversa vem acontecendo entre os estudantes em páginas anônimas criadas no Instagram pelos próprios estudantes.
Estamos e ficamos muito preocupados, pedimos que se puderem reforcem nosso pedido de apoio para a polícia estar presente na escola”.
Atenciosamente, grupo gestor.
Tema será debatido em audiência pública
Apesar de as unidades escolares citadas serem estaduais, a Secretaria Municipal de Educação convocou uma reunião com o Conselho Municipal de Educação, com a pauta principal sendo focada no assunto sobre a ocorrência de criação de perfis nas redes sociais, cujo teor das publicações nesses perfis tratam sobre atentados violentos no CEPI Moisés Nunes Bandeira e na Escola Estadual Doutor Gerson de Farias.
A reunião aconteceu na tarde desta-quarta-feira, 29, no auditório do polo da Universidade Aberta de Brasília (UAB), com participação dos Conselheiros municipais de Educação, representantes da Polícia Militar, do Ministério Público Estadual, do Conselho Tutelar, gestores das unidades escolares estaduais e psicólogos da rede estadual de ensino da Coordenadoria Regional de Educação (CRE).
Foi deliberado que como primeiro passo, O Conselho Municipal de Educação encaminhará à Polícia Civil, ofício com pedido de investigação dos perfis falsos nas redes sociais, bem como sobre os responsáveis pelas ameaças e atrocidades relacionadas ao fato.
Definiu-se também que, considerando que a educação envolve não apenas o corpo docente, tampouco os entes federativos, será convocada pelo Conselho Municipal de Educação, após reunião ampliada com os demais Conselhos Municipais ativos, uma Audiência Pública para trazer os pais, responsáveis, autoridades do município e todos os agentes públicos e privados para discussão do tema e resolução do conflito, bem como levantar demandas estruturais e propor soluções conjuntas referente aos diversos problemas que envolvem a educação.
Determinou-se também que seja programada reunião com a Subsecretária Regional de Educação para tratar tanto da situação extrema abordada, como do desenvolvimento pleno da educação no município, envolvendo instituições de ensino, pais, governo municipal e estadual e entes ligados à educação/rede socioassistencial.
Durante a reunião, um representante da prefeitura afirmou que “O governo municipal se coloca a disposição para auxiliar no que for necessário para ajudar a encontrar soluções, contribuindo para o bem-estar de alunos, professores, pais e funcionários”.
Investigação e segurança reforçada
Atendendo a solicitação do Oficio encaminhado pela direção do CEPI Moises Nunes Bandeira, o comandante da 14º CIPM, Capitão Alexander Jorge Júnior determinou que fosse feita uma visita ao Colégio Municipal Moisés Nunes Bandeira para dispor ações de patrulhamento escolar. A coordenadora pedagógica do colégio, Maria José F. Silva recepcionou a equipe Militar composta pelo 1º Tenente Marcelo, 3º Sargento Baldez e Soldado Hussein, dando maiores detalhes e reforçando o pedido de apoio na segurança do local.
Coordenadora pedagógica Maria José Silva com o 1º Tenente Marcelo e o 3º Sargento Baldez, da 14º CIPM. Segurança foi reforçada nas imediações do Colégio.
Ciente dos fatos, o Comandante da 14º CIPM, Capitão Alexander Jorge Júnior, disse que ”estamos atentos para que não ocorra algo desse tipo em nosso município. Porém, esse tipo de situação não é um problema só de Polícia. Para seja evitado, se faz necessário acompanhamento social e psicológico aos alunos, buscar cuidados sempre com o bullying e com preconceitos que possam gerar revoltas. Os pais devem monitorar as atividades, sites e redes sociais que seus filhos participam. Infelizmente, muitos não limitam os acessos à rede internet, e isso é um ponto crucial.” Alertou.
A reportagem procurou a Polícia Civil para saber quais ações serão tomadas pela instituição, mas o posicionamento é de que a Polícia Civil não comenta sobre investigações ainda em andamento.
Pelo trabalho feito pela equipe da delegada Bárbara Buttini nos últimos anos, em breve os delinquentes que estão agindo em redes sociais, sob as sombras do anonimato, serão desmascarados.
Especialistas reforçam importância de acolhimento de estudantes
Acolher os estudantes, buscar a aproximação com as famílias e qualificar os profissionais da educação são algumas das ações necessárias para enfrentar o problema da violência no ambiente escolar. Especialistas ouvidos, contudo, apontaram que o aumento de casos de agressões nas escolas é um reflexo de problemas de toda a sociedade e reconheceram que o desafio é grande.
O aumento da evasão escolar durante a pandemia-19, o atraso nos conteúdos, a violência em geral na sociedade, o aumento do desemprego e a volta da fome ao patamar dos anos 1990 são alguns dos fatores que impactam também no aumento das tensões em sala de aula de acordo com especialistas.
Em audiência pública da Comissão de Educação (CE), a palavra acolhimento foi repetida por todos os participantes da audiência. Mas como acolher os estudantes? O presidente da Comissão do Plano de Urgência para Paz nas Escolas Públicas do DF, Tony Marcelo, afirmou que é preciso debater e dialogar com os jovens para entender suas necessidades e problemas. Ele apontou que o papel social da escola deve ser fortalecido e afirmou que não dá para pensar na violência de forma isolada.
“A escola nada mais é que o reflexo de uma sociedade que apresenta problemas agudos. O aumento da fome é claro que nós sabemos que essa fome atinge no processo educativo e atinge também no processo de violência, não só escolar.[…] Fortalecer o papel social da escola neste momento é criar vínculos”apontou.
Igor Pipolo, especialista em segurança pública nas escolas, reforçou que as estratégias de acolhimento podem variar conforme o contexto local, faixa etária e realidade da escola. Ele sugeriu uma análise de risco própria de cada escola para identificar os fatores que podem influenciar no cenário interno de violência.
“As escolas precisam oferecer condições mínimas para receber as crianças de forma adequada. Equipe mal preparada, ambiente que não é adequado e até o posicionamento geográfico da região da escola são fatores que podem influenciar. Segurança é prevenção e a prevenção não está necessariamente ligada a questões policiais, mas a um contexto de infraestrutura e de acolhimento” disse. Pipolo também sugeriu atenção especial com as famílias e maior integração entre a casa e a escola.
Pesquisa feita pela Associação dos Professores do Estado de São Paulo aponta uma escalada da violência nas unidades de ensino. Em 2019, mais da metade dos professores (54%) disseram já ter sofrido algum tipo de agressão. Entre os estudantes, em 2019, 81% relataram saber de episódios de violência na própria escola.
“Os dados mostram que a insegurança e casos de violência no ambiente escolar é uma realidade e para lidar com esse cenário é necessário um movimento amplo de toda a sociedade para construir uma cultura de paz. Precisamos de investimento humano e tecnológico para prevenção e enfrentamento da violência, começando pelos colégios de periferia” diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
Fonte: Jornal O VETOR
Jornalista Roberto Naborfazan