“Canetas emagrecedoras” começam a se tornar questão de saúde pública, avaliam especialistas; entenda

Estudo já identificou um pequeno aumento no risco de neuropatia óptica isquêmica, uma perda súbita da visão devido à interrupção do fluxo sanguíneo para o nervo óptico

“Canetas emagrecedoras” começam a se tornar questão de saúde pública, avaliam especialistas; entenda
É fundamental que os médicos realizem um acompanhamento rigoroso dos pacientes em uso desse fármaco/Foto:Divulgação

Medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, da classe dos análogos do GLP-1 (que agem de forma semelhante ao hormônio natural), que tratam o diabetes tipo 2 e obesidade, têm sido indiscriminadamente usados para o emagrecimento. Com isso, segundo especialistas, a popularidade desses remédios transformou o assunto em questão de saúde pública, a ponto de se discutir o uso adequado e controlado desses fármacos.

De acordo com o médico nutrólogo e intensivista Dr José Israel Sanchez Robles, já existem riscos, mesmo que pequenos, para quem usa as “canetas emagrecedoras”. “É essencial que os médicos informem seus pacientes sobre essa possível correlação. Evidências recentes sugerem um aumento modesto no risco de neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica em indivíduos que utilizam semaglutida, princípio ativo presente nos fármacos Ozempic, Wegovy e Mounjaro. No entanto, os benefícios clínicos da semaglutida, como a otimização do controle glicêmico, a redução do peso corporal e os efeitos cardioprotetores, continuam a superar os potenciais riscos associados", explicou.

Vale lembrar que neuropatia óptica isquêmica é uma perda súbita da visão devido à interrupção do fluxo sanguíneo para o nervo óptico. O estudo que fala sobre os riscos foi  publicado no “JAMA Ophthalmology”, uma revista médica que publica pesquisas sobre oftalmologia e publicada pela American Medical Association. A pesquisa identificou um pequeno aumento no risco de neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NAION) em pacientes com diabetes tipo 2 que utilizam semaglutida. A pesquisa, que analisou dados de 37,1 milhões de adultos em 14 bancos de dados da rede Observational Health Data Sciences and Informatics (OHDSI), sugere que o risco, embora presente, é menor do que o relatado em estudos anteriores.

O estudo atual buscou avaliar a possível associação entre o uso de semaglutida e o desenvolvimento de NAION. Os resultados mostraram que a taxa de incidência da doença  entre usuários de semaglutida foi de 14,5 por 100.000 pessoas-ano, utilizando uma definição sensível da doença. “Os achados contribuem para a melhor quantificação do risco real de neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA), que, embora baixo, pode ser relevante devido ao número crescente de indivíduos em uso de semaglutida, especialmente para a perda de peso. Diante da ampla prescrição deste fármaco, torna-se essencial monitorar possíveis eventos adversos e reforçar a necessidade de vigilância clínica”, reforça José Israel.

O especialista afirma que mais estudos continuarão sendo feitos para entender os mecanismos por trás dessa associação da doença com o uso do medicamento, para que se estabeleça uma “relação causal definitiva”. “Apesar do discreto aumento no risco de neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA), os pesquisadores reforçam que os benefícios da semaglutida no controle glicêmico, bem como na redução de complicações cardiovasculares e renais, continuam a justificar sua indicação. No entanto, é fundamental que os médicos realizem um acompanhamento rigoroso dos pacientes em uso desse fármaco, monitorando potenciais sinais de NOIA-NA e promovendo uma discussão clara e transparente sobre os riscos e benefícios do tratamento”, conclui o médico.

Por Carlos Nathan