Energético em excesso pode causar ataque cardíaco e morte? Médico explica

O consumo de bebidas energéticas associadas ao álcool já é uma prática difundida, embora contraindicada. Agora, mais recentemente, tem crescido a utilização desses produtos como recurso pré-treino por praticantes de academia em busca de maior disposição e desempenho. No entanto, o médico nutrólogo e intensivista Dr. José Israel Sanchez Robles alerta que essa conduta representa um risco significativo à saúde cardiovascular, podendo desencadear complicações graves, como arritmias e paradas cardíacas súbitas — inclusive em indivíduos jovens, sem diagnóstico prévio de cardiopatias. 

"As bebidas energéticas apresentam concentrações elevadas de cafeína, taurina e outros compostos com efeito estimulante, os quais promovem hiperestimulação do sistema cardiovascular. Quando associadas à prática de exercícios físicos de alta intensidade, potencializam de forma significativa o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, elevando substancialmente o risco de arritmias, síndrome coronariana aguda e, em casos extremos, morte súbita", explica o especialista.  

O Dr. José Israel reforça que os riscos associados ao consumo de bebidas energéticas tornam-se ainda mais expressivos quando seu uso é excessivo ou combinado a outras substâncias, como o álcool. "A cafeína possui efeito estimulante sobre o sistema nervoso central, o que pode mascarar os efeitos depressores do álcool, como a sedação e a redução dos reflexos. Essa interação pode induzir a uma falsa percepção de alerta, favorecendo o consumo excessivo de álcool e, consequentemente, gerando sobrecarga cardiovascular. A associação entre substâncias com efeitos opostos representa um risco elevado, podendo resultar em eventos cardiovasculares graves", alerta ele.  

Um exemplo recente e trágico foi o da professora norte-americana Katie Donnell, de 28 anos, que faleceu após sofrer uma parada cardíaca. Relatos indicam que ela consumia até três latas de energético por dia, além de suplementos de cafeína antes dos treinos. "Situações como essa evidenciam que o uso abusivo de substâncias estimulantes, especialmente quando combinadas a outras drogas como o álcool, pode desencadear eventos cardiovasculares fatais, mesmo em indivíduos jovens, previamente saudáveis e sem antecedentes pessoais de cardiopatias. A ausência de comorbidades não elimina o risco quando há sobrecarga aguda do sistema cardiovascular.", comenta o médico. "O organismo, quando exposto simultaneamente à ação de substâncias estimulantes e ao estresse fisiológico decorrente de esforço físico intenso, pode evoluir para um estado de exaustão aguda, levando ao colapso hemodinâmico”, completa.  

O especialista orienta que o pré-treino ideal deve priorizar hidratação e nutrição adequada, sem recorrer a estimulantes artificiais. "A melhora do desempenho físico de forma segura e sustentável deve ser baseada em pilares fisiologicamente comprovados: plano alimentar equilibrado e individualizado, períodos adequados de recuperação e descanso, além de progressão gradual da carga de treinamento. A adoção de substâncias ou estratégias não respaldadas por evidências científicas — frequentemente promovidas como ‘soluções rápidas’ — expõe o indivíduo a riscos significativos à saúde, sem garantir benefícios reais.”  

Para aqueles que optam por não interromper completamente o consumo de bebidas energéticas, o Dr. José Israel orienta que, em casos de ingestão eventual, o consumo seja feito com moderação e jamais associado à prática de atividades físicas de alta intensidade ou ao uso concomitante de álcool.  “A abordagem mais eficaz para otimizar os níveis de energia e o desempenho físico nos treinamentos continua sendo o cuidado integral com a saúde. Isso inclui alimentação adequada, sono de qualidade, hidratação, controle do estresse e prescrição de treino individualizada. Estratégias sustentadas por evidência científica são fundamentais para garantir resultados consistentes e seguros”, conclui ele.

Por Carlos Nathan Sampaio