Tensões comerciais globais e possíveis impactos no Brasil

Os sinais de que uma guerra comercial de escala global pode estar se formando reacenderam os alertas sobre as mudanças nas dinâmicas do comércio internacional, o que pode afetar o Brasil de várias maneiras.

Nesta terça-feira (4), Canadá, China e México anunciaram a implementação de novas tarifas sobre produtos importados dos Estados Unidos, em resposta às taxas anteriormente impostas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, aos três países.

Por outro lado, o aumento das tensões comerciais entre os EUA e seus principais aliados pode abrir novas oportunidades para o comércio exterior brasileiro, permitindo ao Brasil expandir suas exportações para grandes parceiros comerciais.

Oportunidades para o Brasil

Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio-fundador da BMJ Consultores Associados, aponta que algumas das medidas anunciadas pela China, em resposta às tarifas de Trump, podem beneficiar o Brasil. “As retaliações sobre a soja e o frango podem acabar favorecendo as exportações brasileiras”, afirma Barral.

Além de ser o maior parceiro comercial da China, o Brasil está entre os maiores exportadores globais desses dois produtos.

Potenciais impactos das tarifas de Trump

Embora o Brasil não esteja entre os alvos prioritários de retaliação do governo dos EUA — que tem focado nos seus maiores parceiros comerciais o país pode sentir os efeitos das tarifas impostas por Trump.

Algumas das medidas que podem afetar diretamente o Brasil incluem:

1. Tarifas sobre produtos agrícolas importados pelos Estados Unidos

De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), os EUA foram o terceiro maior importador do agronegócio brasileiro em 2024, com participação de 7,4%.

A madeira brasileira foi o produto de destaque, com os Estados Unidos recebendo 42,4% das exportações desse item. Nesse caso, o Brasil pode ser impactado pelas tarifas, já que Trump anunciou, no final de fevereiro, a implementação de uma tarifa de 25% sobre madeira e produtos florestais importados.

2. Tarifas recíprocas sobre produtos importados

Outro possível impacto para o Brasil pode vir das tarifas recíprocas que Trump pretende implementar contra países que aplicam taxas sobre produtos dos EUA.

“Queremos um sistema equilibrado”, disse Trump aos jornalistas quando anunciou as tarifas. Um exemplo citado foi o etanol brasileiro:

“A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. No entanto, o Brasil cobra uma tarifa de 18% sobre as exportações de etanol dos EUA. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil.”